segunda-feira, 7 de julho de 2008

"Se não voltar... não era seu. Ninguém perde o que nunca possuiu."

Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para coar livre e solto no céu, alegrar a quem o observasse.
Um dia uma mulher viu esse pássaro e se apaixonou por ele. Ficou olhando o seu vôo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rápido, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para coar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro.
Mas, então pensou, “talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes!”. E a mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro.
E sentiu-se sozinha.
E pensou: “Vou montar uma armadilha. A próxima vez que o pássaro surgir, ele não mais partirá.”.
O pássaro, que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha, e ficou preso na gaiola.
Todos os dias a mulher olhava o pássaro. Ali estava o objeto de sua paixão, e ela mostrava para suas amigas, que comentavam: “Você é uma pessoa que tem tudo!”. Entretanto, uma estranha transformação começou a processar-se... Como tinha o pássaro, e já não precisava conquistá-lo, foi perdendo o interesse. O pássaro, sem poder voar e exprimir o sentido de sua vida, foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio – e a mulher já não prestava mais atenção nele, apenas na maneira como o alimentava e como cuidava de sua gaiola.
Um belo dia, o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e viva pensando nele. Mas não lembrava da gaiola. Recordava apenas do dia em o vira pela primeira vez, voando contente por entre as nuvens.
Se ela observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro, era a sua liberdade, a energia das asas em movimento, não o seu corpo físico.
Sem o pássaro, sua vida também perdeu o sentido, e a morte veio bater à sua porta.
-“Por que você veio?” – Perguntou à morte.
-“Para que você possa voar de novo com ele nos céus.” – Respondeu a morte. “Se o tivesse deixado partir e voltar sempre, você o amaria e o admiraria ainda mais; entretanto, agora você precisa de mim para encontrá-lo de novo”.

(Paulo Coelho – Onze minutos)

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