terça-feira, 29 de julho de 2008

Conto hassídico:

Aprendam....

Um rabino teve uma conversa com o Senhor sobre o paraíso e o inferno. 


“Vou mostrar-lhe o inferno”, disse o Senhor, e levou o rabino para um aposento em que havia uma grande mesa redonda. 
As pessoas sentadas em volta dela estavam famintas e desesperadas. No centro da mesa havia uma enorme panela de cozido, com um cheiro tão delicioso que a boca do rabino se encheu de água. Cada pessoa em torno da mesa segurava uma colher com um cabo longuíssimo. 
Mas, apesar de as colheres alcançarem a panela, seus cabos eram mais compridos que os braços dos candidatos a comensais: assim, incapazes de levar o alimento à boca, nenhum deles conseguia comer. 


O rabino viu que seu sofrimento era realmente terrível.

“Agora vou mostrar-lhe o paraíso”, disse o Senhor, e foram para outro aposento, exatamente igual ao primeiro. Lá estavam a grande mesa redonda, a mesma panela de cozido. As pessoas, tal como antes, estavam munidas das mesmas colheres de cabo longuíssimo – mas lá, todas eram bem nutridas e cheinhas, riam e conversavam. 
O rabino não conseguiu entender. 
“É simples, mas exige uma certa habilidade”, disse o Senhor. 


“Nesta sala, como você vê, eles aprenderam a alimentar uns aos outros.”


#ficaadica!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Aos meus amigos... por ontem!!

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade, e eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar! Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que ele não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece, é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!


A gente não faz amigos, reconhece-os."

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Fizeram-me acreditar...


"Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada.

Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável.

Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidades próprias é que poderemos ter uma relação saudável.

Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos.

Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, e os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto.

Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas.

Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente. Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém."

(John Lennon)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

"Se não voltar... não era seu. Ninguém perde o que nunca possuiu."

Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para coar livre e solto no céu, alegrar a quem o observasse.
Um dia uma mulher viu esse pássaro e se apaixonou por ele. Ficou olhando o seu vôo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rápido, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para coar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro.
Mas, então pensou, “talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes!”. E a mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro.
E sentiu-se sozinha.
E pensou: “Vou montar uma armadilha. A próxima vez que o pássaro surgir, ele não mais partirá.”.
O pássaro, que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha, e ficou preso na gaiola.
Todos os dias a mulher olhava o pássaro. Ali estava o objeto de sua paixão, e ela mostrava para suas amigas, que comentavam: “Você é uma pessoa que tem tudo!”. Entretanto, uma estranha transformação começou a processar-se... Como tinha o pássaro, e já não precisava conquistá-lo, foi perdendo o interesse. O pássaro, sem poder voar e exprimir o sentido de sua vida, foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio – e a mulher já não prestava mais atenção nele, apenas na maneira como o alimentava e como cuidava de sua gaiola.
Um belo dia, o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e viva pensando nele. Mas não lembrava da gaiola. Recordava apenas do dia em o vira pela primeira vez, voando contente por entre as nuvens.
Se ela observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro, era a sua liberdade, a energia das asas em movimento, não o seu corpo físico.
Sem o pássaro, sua vida também perdeu o sentido, e a morte veio bater à sua porta.
-“Por que você veio?” – Perguntou à morte.
-“Para que você possa voar de novo com ele nos céus.” – Respondeu a morte. “Se o tivesse deixado partir e voltar sempre, você o amaria e o admiraria ainda mais; entretanto, agora você precisa de mim para encontrá-lo de novo”.

(Paulo Coelho – Onze minutos)